- Fomos felizes?
- Que disparate. Claro que não.
- Nunca?
- Sabes bem que não.
- Não te parece estranho?
- Nós os dois? Nada mesmo.
- Penso que te amei.
- Era só o que me faltava.
- Porquê tanta surpresa?
- Tu nunca me amaste.
- Como podes ter tanta certeza?
- Porque somos iguais. Não amamos ninguém. Não somos capazes disso.
- Não diria tanto.
- Amar alguém implica ser feliz. Não sabemos como ser felizes.
- Eu sou feliz.
- Não és nada. Pára de dizer disparates.
- Sou giro, sou novo, sou elegante, tenho dinheiro...
- Naturalmente. O que tem isso a ver com felicidade?
- Já é alguma coisa.
- Não me fodas. Estás com os copos.
- Quandos nos beijamos debaixo do azevinho, naquele Natal...
- Querias foder comigo, não tem nada a ver com amor. Bebeste demais.
- Não fodemos nessa noite.
- Os dois não.
- Ah, é verdade...
- Pois...
- Porque é que nos juntamos, sendo assim?
- Por preguiça, acima de tudo.
- Que tristeza.
- Nem por isso, há razões piores.
- Quem traiu primeiro?
- Não sei e não me interessa.
- Tens mais dinheiro que eu.
- Sim. E então?
- A minha família existe há mais de quinhentos anos.
- E isso significa que...
- Tens uns olhos lindos.
- Foi a primeira coisa que me disseste.
- E depois?
- Fomos para a cama.
- Foi bom?
- Penso que sim.
- Eu também.
- Não me sinto bem.
- Não estás com bom aspecto.
- Acho que vou vomitar.
- Para variar...
- Ajudas-me?
- Não. Gosto de te ver assim.
- Que maldade.
- Vai-te foder.
- Amo-te.
- Naturalmente.
- Vou vomitar.
- A varanda é já ali.
Noite. Palazzo. Festa. Outra vez.