segunda-feira, 13 de julho de 2009

L'Allievo

Beijas-me. Desprezo-te. Bebo champagne. Rasgas a minha roupa. Empurro-te. Cais e olhas para mim. Dou uma gargalhada e cuspo o líquido dourado para a tua cara. Amas-me, portanto. Vai-te-foder. Derrubas-me. O teu punho abre-me o lábio. O copo parte-se contra o chão de mármore negro. Vou dar cabo de ti. O sangue escorre para o tapete branco e para o meu peito. Levo-te pelos cabelos até ao quarto. É assim que vai ser? Os lençóis de linho branco ficam vermelhos. Outro punho no ar. Mais vidros desfeitos. Mais sangue. Agora teu. Parece-me justo. Cuspo vermelho. Pontapeias-me no ventre. Não consigo respirar. Ouço-te rir. Não vejo nada. Não sinto nada. Michael Nyman a tocar algures. Fecho os olhos, ergo-me. Empurro-te contra o espelho veneziano. Banda sonora de Prospero's Books, 1991. Corro pela escada em arco. Abro a porta. Segues-me. Está frio. Uma vertigem. Olho para trás. Não vejo nada. Não ouço nada. Mentira. Nyman a tocar. Balanescu Quartet. Estás à porta. Tens sangue. Não sorris. A mão que se agarra à porta deixa um rasto vermelho na parede branca. Recuo até ao Bentley descapotável. Páras. Entro no carro. Levantas os braços. Não quero saber. Faço o Bentley esgravatar o cascalho da entrada e embater no Mercedes CL600. O teu Mercedes CL600 novo. Não ouço o Nyman. Apenas os 560 cavalos do Bentley a resfolegarem, apontados a ti. Deus não é bom e eu também não. Não vejo o teu rosto quando o Bentley entra pela tua sala dentro como um ariete desgovernado. Quero gritar. Já chega. Suponho que te amo.

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